quarta-feira, 19 de maio de 2010

vai vai vai


Vem cá
Já te disse que não é assim
Não vai desistindo assim
Nem faz como não tivesse jeito
Me diz aqui
Sinceramente
Esse é você?
Ou o que você deixou de ser
Porque eu já não sei mais
O que te afeta 
O que te faz
Senta aqui
Ou então vai lá
Só não fica aí
Parado no lugar
Se der deu
Se não der não deu
Segue o caminho
Que um dia
Você vai ver
Há de ter sido o teu

segunda-feira, 17 de maio de 2010

cidade torta







a cidade é a mesma de sempre. torta. sempre será. quão torta, pra que lado, pra que passe o que, o que cai onde, quem se confunde, isso é coisa do olhar. olhar é coisa que se faz. cidade também.

guerra


em algum momento é preciso ser parcial. para que alguma coisa tome corpo sempre há que se ser parcial. sendo assim, que sejamos por coragem, não por ignorância. chega de parcialidades por ignorância. as guerras nunca terão fim. sendo assim que sejam guerras escolhidas. chega de guerra herdadas. chega de soldados arrependidos. chega. se é para se haver guerra, que seja a nossa guerra, e que no nosso sangue, enquanto escorre, corra a nossa causa.

alheio




o que houve?
não sei. acho que aconteceu alguma coisa comigo.
seu braço caiu. o que houve?
não sei, parece que meu braço caiu.
não sabe como seu braço caiu?
não, não sei.
e você não se importa?
com o que?
seu braço.
não sei. por quê? o que tem meu braço?

trevas


trevas tristes me travam trago em mim a trágica traição de meu próprio trato tramei e tramei mas as tralhas me atrapalharam minhas pernas trançaram destroçadas então trôpego caí tragado pelas trevas tristes tolas tantas trevas entre um trago e outro trago as trevas

estação terminal


próxima estação
saens peña
estação terminal
o desembarque é obrigatório
o metrô rio agradece sua preferência.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

um na mão


era uma vez um menino que criava pássaros soltos. não gostava de gaiolas. diziam que um pássaro na mão valia mais que dois voando. ele não entendia. até que um dia, deixou de ser menino e pegou um pássaro na mão. olhava para o céu e via os outros, voando. o pássaro em sua mão o fez pensar. pássaros no céu são para meninos. homens os devem ter presos, bem firme entre as mãos. quis ser de novo menino. mas já não havia pássaros a voar.

terça-feira, 11 de maio de 2010

semelhança




-Ei, ei!
-...
-Eu te conheço de algum lugar, não conheço?
-...
-Tenho certeza de que te conheço, só não lembro de onde?
-...
-Nossa! Que agonia, eu juro que te conheço. Da escola talvez, mas você tá muito envelhecido, ia ser difícil de lembrar. Do trabalho não é, porque o pessoal de lá é quase todo o mesmo de sempre. Um tio meu talvez. Não, não, não.
-...
-Meu Deus! Já sei com quem você se parece! 
-...
-E parece muito. Que coisa!
-...
-Você é a cara do meu pai! Como se fosse ele uns anos mais novo.
-Augusto! Sai da frente desse espelho e vem que sua camisa já tá passada. Não vai se atrasar de novo pro trabalho logo na sua última semana.
-Já estou indo amor. O que você acha de eu deixar a barba crescer?